Com o grande sucesso das franquias Jurassic Park e Jurassic World, a Netflix iniciou, ano ano de 2020, a série animada Jurassic World: Camp Cretaceous. Com uma proposta mais infanto-juvenil, a série acompanha um grupo de crianças na Ilha Nublar durante e após os acontecimentos do filme Jurassic World (2015).
A segunda temporada acontece logo após o fim da primeira, mostrando os personagens tendo que sobreviver pelo tempo que for preciso na ilha infestada de dinossauros. Aqui vemos bem a transição de jovens imaturos, inocentes e despreparados para um grupo unificado em que, mesmo com diferenças drásticas de personalidade entre cada integrante, é capaz de se organizar bem para resolver os problemas. Isso se prova quando, após um salto temporal de algumas semanas mostrado no segundo episódio, os personagens foram capazes de construir um abrigo sofisticado que pôde atender todas as necessidades.
Com os membros do grupo conhecendo melhor a ilha e seus perigos, esse amadurecimento também se dá de maneira individual.
Darius
O protagonista, absolutamente fascinado por dinossauros, ficou mistificado com tudo que via na ilha durante a primeira temporada. Já na segunda ele se tornou um personagem totalmente diferente. Focando apenas no essencial para sobreviver e ajudar seus amigos, ele perde muito desse fascínio que tinha pelas criaturas pré-históricas, se tornando também uma pessoa mais fria e madura.
Kenji
O personagem passou de um garoto rico e mimado sem humildade nenhuma e que constantemente debocha de seus colegas, para alguém muito mais comprometido com os objetivos do grupo e que aceita bem melhor as diferenças. Ainda assim, ele não perde sua essência e angaria sempre o alívio cômico, se mantendo como um dos melhores personagens da série.
Yas
Uma garota extremamente competitiva que quer vencer todos os desafios, independente da sua condição física ou de qualquer limitação. Na segunda temporada ela está mais disposta a aceitar ajuda e trabalhar em prol do bem do grupo, ainda que ela não seja a única beneficiada.
Brooklyn
Brooklyn no início da série era o estereótipo da garota que tem a vida totalmente voltada para as redes sociais, sendo incapaz de ver o mundo por outra ótica que não seja a de uma influenciadora digital. Agora, quando se encontra desconectada do meio virtual, ela se expõe muito mais as situações na ilha e consegue fortalecer laços com seus colegas da vida real.
Sammy
Sammy, na primeira temporada, se revelou uma espiã de uma empresa de engenharia genética rival da Masrani, responsável pelo Jurassic World. Apesar de perder a confiança por parte de seus colegas na primeira temporada, aqui ela se mostra muito mais leal ao grupo.
Ben
Após sua suposta morte no final da primeira temporada, Ben passa por diversas situações desafiadoras e retorna tempos depois ao encontro do grupo. Isso causa uma transformação drástica no personagem, que passa de alguém medroso e obcecado por limpeza, para um garoto mais capaz que todos os seus colegas no que diz respeito a sobrevivência na selva em meio aos dinossauros. Foi o personagem com a mudança mais drástica desde quando foi apresentado.
Dessa forma, todos os personagens são bem desenvolvidos e tiveram suas relações bem trabalhadas, de modo que os produtores souberam usar situações para aprofundar em cada um deles e mostrar o quanto mudaram desde o primeiro ano da série.
Com a premissa de um grupo de ecoturistas que depois se revelam caçadores, na ilha, os personagens são forçados a lidar não apenas com dinossauros, mas também com seres humanos com más intenções. Apesar de ser um ponto que não havia sido mostrado anteriormente, a série peca no desenvolvimento dessa ameaça. Como esses caçadores são os supostos vilões da história, eles naturalmente deveriam ter um arco bem desenvolvido e um mínimo de profundidade para que o público se apegue a eles e entenda sua motivações. Mas não é isso que acontece. Dos três caçadores, dois deles são vítimas de um extremo clichê, em que eles só são são maus pelo fato de serem maus. Isso é somado à uma tentativa falha de alívio cômico, reforçando que esses personagens não só são rasos e sem carisma, como também não passam de fato a ideia de uma ameaça iminente por si só. Já o terceiro caçador demonstra um grau maior de complexidade no momento em que, mesmo preso, ele decide ajudar as crianças e contraria as atitudes de seus líderes. Ainda assim, seu desfecho é muito mal resolvido, pois apesar de se sacrificar para salvar as crianças, a série não é capaz de deixar um clima de mistério interessante a respeito de seu real paradeiro.
Quanto aos dinossauros mostrados na temporada, não há nada de muito inovador. Todos eles já haviam sido apresentados anteriormente na primeira temporada e nos filmes live action da franquia Jurassic World e Jurassic Park. Diferentemente da temporada anterior, essa não faz questão alguma de criar um clímax interessante nas vezes em que algum dinossauro perigoso aparece. A tática assertiva dos filmes de mostrar o monstro aos poucos para que ele seja antes construído no imaginário do público, criando um clima de tensão e curiosidade, para depois mostra-lo por inteiro foi totalmente descartada nessa temporada da série. Os dinossauros sequer conseguem colocar os personagens em xeque, em situações nunca vistas antes. Pelo contrário, os produtores optam repetidamente por fazer cenas semelhantes às dos filmes clássicos em prol do fator nostalgia.
Para não deixar a história totalmente “sem sal” os produtores inseriram um suposto novo dinossauro no final na temporada. Numa cápsula congelada de nome E750, não é possível ver com clareza seu formato, mas especulações sugerem que seria um novo dinossauro híbrido que causará muitos problemas ao personagens na terceira temporada, uma vez que foi libertado acidentalmente por Kenji.
A segunda temporada de Camp Cretaceous da Netflix não passa de algo mediano. Mesmo com um desenvolvimento satisfatório dos personagens principais e um gancho interessante para a próxima temporada, não existe esforço nenhum para criar um clima de mistério e incerteza que prenda o espectador durante todos os oito episódios.
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